O mercado para obrigação
Dentro de nossa tradição religiosa sempre que existe obrigação onde são assentados orixás ou onde são cortadas aves ou 4 pé nos orixás já assentados é distribuído mercado ao final aos visitantes. O mercado é um axé que serve para distribuir uma parte da obrigação religiosa aos que visitaram a festa.
Antes de iniciar a obrigação os pacotes, caixas ou ainda sacolas com os mercados são montados e colocados em local de fácil acesso para a distribuição aos visitantes. Sendo um axé de orixá com parte da obrigação que foi cortada no quarto de santo é necessário repensar o que se faz com mercado, pois não adianta pegar mercado se logo na saída colocar fora, é como colocar no lixo o axé de um orixá.
Ser de religião africana implica em enxergarmos além de nossos olhos, não se pode apenas olhar como todos, é preciso olhar com o coração e com a pureza de uma criança.
O mercado é antes de tudo um axé de prosperidade, de fartura, onde são distribuídos axés dos orixás. Quem leva o mercado está levando o axé da casa para sua casa, e quem distribui o mercado está ampliando o axé de sua casa. A religião africana sempre pensa na coletividade, na ajuda mútua, na preservação da vida e união entre todos. Quem não pensa religião desta maneira precisa mudar.
Para Tacques (2008, p. 115) ” os mercados são pacotes onde se colocam as comidas-de-santo para serem ofertados aos convidados simbolizando a distribuição e a extensão do axé de prosperidade, fartura e fraternidade a todos os ares e Ilê visitantes.”
Não se pode confundir o mercado da obrigação com frutas, bolos e flores que a comunidade de religião distribui ao final de suas obrigações religiosas, que por muitos também é chamado de mercado.
Orixá é fartura, e quanto mais distribuímos mais recebemos, mas não se pode por causa disso pensar que orixá é troca, porque não é. A religião dos orixás é sustentada pela fé, pela conduta correta e pela humildade, que de forma nenhuma pode ser confundida aquele que simplesmente quer pagar para fazer algo, não se compra o orixá e também não se compra a fé.
REFERÊNCIA
TACQUES, Ivoni Aguiar. Ilê -Ifé: de onde viemos – Porto Alegre: Artha, 2008.