16 de Abril, 2012

A dança nos rituais afro

Por Pai Ronie de Ogum Adioko

A dança é uma das mais puras expressões humanas, e dentro do contexto religioso é de suma importância, pois através da dança o Orixá conta sua história, seu mito, e nos faz entender melhor a religião africana. Cada Orixá dança conforme suas características pessoais e de acordo com o momento em que dança.

Quando se dança para o Orixá Bará, são realizados movimentos de representam o movimento de abertura, simula-se o uso de chaves, enaltecendo uma das suas principais características.

Ogum é o reflexo de um guerreiro indo para uma batalha, com passos fortes. É o Orixá da guerra, da agricultura, protetor dos exercitos, é a energia capaz de transformar o metal bruto em armas e ferramentas para defesa e sustentabilidade.

Oya dança como a rapidez dos ventos, ela é o próprio vento. Em sua dança se sente a energia dos ventos em movimento. Ventos que nos levam a um estado de pureza e serenidade. Na natureza os ventos transformam a paisagem, a modificando, é ele quem consegue organizar e limpar. O ar em movimento também pode ser perigoso, como Oya, um orixa do ar, que não sendo tratado com a dedicação e sabedoria adequada, pode gerar o caos.

Durante a dança do Orixá Xangô, a balança, que pesa, e avalia nossas ações, é o principal símbolo realizado, indicando o julgamento que realiza sobre nós.

Obá, a mais guerreira dos Orixás femininos, e também a que é capaz de tudo por amor, dança lembrando uma roda que se movimenta, como vida, e cobrindo uma de suas orelhas com a mão. É rápida, persistente e dinâmica.

Odé e Otim, nos rituais do batuque são caçadores, sua dança simula o movimento de uma flecha. É um momento mágico quando um filho de santo se ocupa com o Orixá Odé e faz movimentos como um flecheiro para todos os lados, é o Orixá que nos leva a atingir nossos mais difíceis objetivos.

Ossanha, é o Orixá dono de todas as folhas, e conhecedor de seus segredos, dança a maior parte do tempo com uma perna só, como se não tivesse a uma delas. Seus passos são rápidos e fortes.

Xapanã, divindade que dentro do batuque do Rio Grande do Sul é o responsável pelos problemas de pele, é aquele que é invocado para limpar. As doenças de pele (principalmente), os males físicos e espirituais. Sua dança simula movimentos de varrer, como se estivesse utilizando uma vassoura.

Oxum e Iemanja a serenidade e harmonia e o movimento das águas, dançam como se fossem mães com seus filhos no colo. Oxum em especial durante a dança se olha em espelhos e se admira, já que dentre outras coisas é o Orixá da beleza e da riqueza.

Oxalá, divindade da criação, do branco e da misericórdia, dança com mais leveza, levando a todos a repensarem suas atitudes.

Prestar atenção nos gestos e forma dos Orixás dançarem é prestar atenção na manifestação física dos Orixás no aye, é ter a possibilidade de ter contato direto com o sagrado. A dança como forma de arte, a arte como forma de cultuar o divino.

Nenhuma outra religião ou crença possibilita que seus participantes tenham contato direto com o sagrado, como ocorre nos cultos afro.

Quando se dança é destacado os aspectos mais cruciais de cada Orixá, e desta forma estar em uma roda de batuque significa estar em sintonia com seu Orixá, estar integrado com o Orun e o Aye, é o momento em que nos é possível manter contato direto com o Orixá, estreitando nossa relação com as divindades africanas.

O batuque é uma religião ritualística, musical e festiva. As rezas (cantadas de forma musical) e suas danças são uma forma do povo de santo cultuar e reverenciar suas divindades, os Orixás (divindades que representam as forças da natureza).

Em um xirê (festa) os Orixás dançam no centro da roda, os filhos de santo e convidados formam a roda. Orixás, filhos e convidados dançam ao mesmo tempo.