Como conheci a religião
Foto: Tiago de Oxum / Ijexá Produtora Afro
A religiosidade sempre me encantou, no começo não sabia exatamente o que buscar, não compreendia o que queria, não sabia que o caminho espiritual era o caminho a ser trilhado, mas sabia que busca uma espiritualidade, mesmo desconhecida.
Como a maioria das crianças, fui batizado na Igreja Católica Apostólica Romana mas, logo ao crescer e entender um pouco mais ví que não era meu caminho. Não fiz a primeira comunhão, não fiz crisma, na memória guardada acredito que a única criança da turma em que estudava naquela escola que não fez, já que a escola ficava ao lado de uma Igreja.
Anos mais tarde, durante o serviço militar no Exército, fui convidado por amigos para conhecer uma Igreja Batista, fui muito bem recebido, acolhido e o ambiente era agradável e alegre, frequentei algum tempo, era de nome Brasa e, ficava nas imediações da Azenha, próximo ao antigo Estádio Olímpico.
Mas chegou um momento que ví que não era meu lugar e, de lá ficam apenas boas lembranças carregadas na memória, momentos vividos que sem dúvida também contribuíram para ser o que hoje sou dentro da religião.
Conheci a religião espírita, fui apenas algumas vezes e rapidamente senti que não era o que buscava, não havia encanto, faltava emoção, nunca fui tocado e sentia que não tinha vontade de estar ali, buscava respostas que não encontrei.
Foi então que conheci uma senhora chamada Elair de Ogum Beira Mar, como ela era conhecida na cidade de Cachoeirinha, uma senhora simples, educada e muito atenciosa, frequentei alguns anos a sua casa, mas sempre apenas como visita, não fiz nenhum tipo de iniciação com ela. Na sua casa tive diversas vezes em sessões de Umbanda, de onde assisti em homenagens aos seus guias de cablocos, pretos velhos, cosmes entre tantas vezes que estive em sua casa. Também participei muitas vezes em sessões de sua pomba gira Menina e seu Exú Tiriri.
A energia sentida, vivida, observada encantava, tentava a todo tempo compreender o que ocorria, gostava do que via, mas ao mesmo tempo parecia que faltava algo e, com o tempo comecei a me sentir incomodado em buscar respostas em outras tradições religiosas. Comecei então a ver a Umbanda como uma miscelânia de muitos credos diferentes, não era novamente o que buscava, passei a respeitar a Umbanda, mas não é para mim.
Então uma amiga chamada Beatriz, disse que havia um pai de santo em Canoas, que era muito bom, e segundo ela era caro, mas ele conseguia jogar búzios e ver como ninguém e eu iria adorar conhecer, o nome dele era Pai Sérgio, conhecido como Baba Sérgio, ou Pai Sérgio de Xangô Aloxé.
Liguei pra ele, marquei uma consulta, joguei búzios com ele durante vários anos, confirmou minha cabeça para Ogum, fui seu cliente, amigo e então com o tempo filho. Em muitas das vezes em que joguei búzios com ele Pai Sérgio me dizia – filho (me chamava de filho, mas ainda não era) vou construir um templo para Xangô, aqui na frente. Onde ele queria era um terreno lindo na frente de sua casa em Canoas, mas não era o que Xangô queria, o tempo passou e ele comprou um Sítio em Morungava, vendeu o terreno e iniciou o seu templo para Xangô.
Conheci o Sítio em Morungava juntamente com Alexandre antes mesmo do salão ser construído, em um dia marcado com muita chuva e barro, caminhamos em cima dos alicerces, que a pouco estavam sendo iniciados, ainda muitos buracos sem colocação de nenhuma pedra. Pai Sérgio estava encantado, dizia tudo que iria ser feito, era percepítivel a sua emoção em todos os momentos e mostrar o que estava fazendo e o que ainda iria fazer.
Já em 2004, durante um jogo de búzios em Canoas com Pai Sérgio, ele me disse que iria fazer a inauguração do seu Templo em Morungava e pediu que fossemos eu e o Alexandre, para conhecer a casa. Nos ofereceu o ônibus que havia dito que havia contratado para levar seus irmãos de santo, filhos de Pai Chiquinho de Oxalá, para a festa.
Pegamos o ônibus na noite e horário combinados, antes de ir perguntamos que roupa deveríamos ir, e ele disse que roupa branca, mas não tínhamos. Compramos uma camiseta branca e o Alexandre lavou uma calça até ficar branca a custo de muito alvejante, porque uma calça branca era muito cara e só uma camiseta e uma calça.
Na noite da festa eu estava com a camiseta branca e a calça que o Alexandre lavou e o Alexandre não tinha roupa, mas Pai Sérgio o emprestou uma roupa dele mesmo, toda colorida, na hora de entrar na roda não sabíamos nada, ele disse olha o da frente e faz igual, apenas isso.
A sua festa de inauguração era o que faltava para saber que esta era a religião que buscava, conhecer era o que faltava, era o sagrado que queria, a religião que sempre busquei. A religião onde o sagrado tem contato direto com todos.
Foram 6 anos dentro do axé de Xangô, além de muitos outros anos de convivência com Pai Sérgio em sua casa em Canoas, como cliente, como amigo. Em 6 anos dentro de sua casa em Morungava aprendi o que é fé, foi onde aprendi o que é orixá, onde aprendi o que se deve fazer e também o que não se deve fazer, mas acima de tudo aprendi a acreditar na força do orixá, aprendi a sempre fazer o melhor pelo orixá. Aprendi a conhecer e amar Ogum, aprendi a não ter medo de mais nada além dos próprios orixás.
Depois de algum tempo jogando búzios, e após já ter conhecido sua casa, na primeira festa que fomos, jogando búzios com Pai Sérgio, ele me disse que Ogum queria eu fizesse obrigação, mas não sabia o que era isso, mas prontamente disse ele que tudo certo poderíamos fazer, pois confiava nele.
Apenas perguntei quanto gastaria, a data que seria e também o que precisava e, assim fui iniciado. Com minha primeira obrigação, meu bori de aves, no Templo dedicado a Xangô. Em 2011 ocorre a fundação da Fortaleza Ilê Orixá, juntamente com Pai Alexandre de Oya onde seguimos com o aprendizado deixado por Xangô e Pai Sérgio.
