6 de Março, 2016

DIA 4 DE MARÇO FOI DIA DE OBRIGAÇÃO AOS ANCESTRAIS

Por Pai Ronie de Ogum Adioko

Foi realizada no dia 04 de março, as 20 horas obrigação aos ancestrais no Ilê Orixá, com isso deu-se início a obrigação dentro do axé, já que toda obrigação é iniciada pelo culto ao egun. Egun é não é de forma nenhuma a personificação do mal, e de forma nenhuma é o local para culto de maldades, não deve ser utilizado para isso.

Como já foi dito antes cortar aos ancestrais pode ser feito em balé (local de culto exclusivo para este fim) ou talha (forma em que se chama o corte quando não é realizado no balé). O corte em talha é realizado nos fundos do terreiro, e logo mais após os ritos é despachada. O Ilê Orixá corta em talha, mas o respeito e o cuidado ao ancestral é o mesmo que cortar no balé:

” Por ser o “balé” um local sagrado, jamais poderá ser objeto do uso de feitiços como fazem alguns religiosos mal informados e mal intencionados, e isto constitui um sacrilégio, pois é neste local onde respondem aqueles que, após a morte, julgam nossos comportamentos. A prática de feitiçaria neste local seria o mesmo que fazer algo errado, e ser castigado imediatamente pelo ancestral ali invocado, pois através do “balé”, os “egúns” guardam a casa de religião contra espíritos maléficos e escurecidos.” (Borba, 2013).

Cultuar o ancestral é cultuar nossa raiz religiosa, é o cultuar o nosso início e também o nosso fim. Egun não só representa o início da religião (pois deve ser cultuado antes do orixá), mas também representa o fim, pois com a morte não se cultua mais o orixá de quem morreu, mas o seu egun, que representa o próprio morto, e para poder ser ancestralizado é necessário que se tenha uma vida correta dentro do culto, respeitando primeiramente o ancestral e em seguida o orixá.

“A filosofia yorùbá está sustentada no tripé: riqueza, filhos e vida longa. A vida longa é o mais importante, pois possibilita as outras duas. De fato a vida é entendida sempre como boa, uma dádiva de Deus, por isso os yorùbá entendem que a vida é o bem mais precioso que temos e viver bem significa seguir os valores civilizatórios legados pelos antepassados que são rememorados, de tempos em tempos, em rituais específicos. Foram os antepassados que deixaram para seus descendentes os princípios éticos e morais, assim como o conhecimento da cultura religiosa que serve como cimento na construção das suas vidas.” (Silveira, 2012)

Ser ancestralizado é poder ser lembrado depois da morte, é ter o direito de poder auxiliar as vivos, é ter condições de regular o axé, a ordem e a própria vida, ser ancestralizado significa ter dito uma vida correta com o ancestral e com o orixá, de acordo com nosso projeto mítico, determinado no nosso nascimento.

REFERÊNCIAS

BORBA, Rudinei. O culto ancestral feminino no batuque do RS. Pesquisador independente e autodidata. Abril/2013

SILVEIRA, Hendrix A.A.GBOBO OHUN TI A BÀ SE NI AYÉ L’A O KUNLẸ̀ RÒ NI Ọ̀ RUN: Processo escatológio no batuque do Rio Grande do Sul. CONGRESSO INTERNACIONAL DA FACULDADES EST, 1., 2012, São Leopoldo. Anais do Congresso Internacional da Faculdades EST. São Leopoldo: EST, v. 1, 2012. | p.509-519