18 de Novembro, 2018

Ilê Orixá se reúne para discutir sobre ancestralidade

Por Pai Ronie de Ogum Adioko

Texto: Pai Ronie de Ogum Adioko

Fotos: Alisson de Oxalá Bocum

Na noite do dia 29 de setembro, sábado, os filhos do axé reuniram-se no salão dos orixás, juntamente com Pai Ronie e Pai Alexandre para participarem de oficina sobre ancestralidade. Foi destacado inicialmente por Pai Ronie que o objetivo da oficina é entender o que é ancestralidade e de maneira nenhuma entender o rito, e que para participar do rito no Ilê Orixá participam somente os filhos que possuem bori de 4 pé, ainda destacou que a obrigação aos ancestrais é a mais importante obrigação do ano, pois nos liga ao nosso ancestral, as nossas raízes.

Pai Ronie ainda destacou que o ancestral é quem regula o axé, e em cima disso defini se o axé vai seguir adiante ou retroceder, pois a colheita é sempre mais rápida, tanto sendo boa ou ruim, depende do que foi plantado.

Segundo Pai Ronie, existem três pilares fundamentais na religião, o ancestral, o culto ao Ori e culto ao orixá, a maioria não tem noção da importância ao culto do ancestral (as pessoas que possibilitaram nossa iniciação, o início do axé). Sem ancestral não existe orixá. Egun é uma palavra de origem africana, em uma tradução livre esqueleto, está ligado ao culto ancestralidade. Não se pode conceber a ideia de ancestral mau, pois somente se é ancestralizado quando se faz o que é certo, o que é determinado por nosso projeto mítico social antes de nosso nascimento.

Para entender melhor a ideia de ancestral é preciso lembrar que ao nascer temos ori dividido, uma parte dele fica no Orun e outra  nasce. É no Orun que cada Ori escolhe seu destino de vida, tudo que irá ocorrer, como ocorrerá e porque ocorrerá, mas ao nascer estas escolhas são esquecidas e no Aye (mundo físico) nascemos com nosso livre arbítrio. A vida na Terra se desenvolve conforme se distanciamos ou nos aproximamos de nossas escolhas no Orun, por isso se joga búzios, para compreender as escolhas no Orun, e poder intervir nos caminhos errados.

O inciado na religião faz bori, ao fazer bori é Ori quem estará comendo na cabeça, pois Ori come tudo que teu orixá, quanto mais obrigações se faz, mais nos aproximamos de Ori. Ori é o único orixá que nos acompanha do início ao fim, o Ori de cada um é único, enquanto os demais orixás são coletivos, Ori é o orixá individual de cada um, por isso existem também cântico específicos para Ori.

Segundo  o yorubá vida não cessa com a morte física, estamos vivos até o dia em que somos lembrados, a vida se desenvolve conforme o Odu de cada um, mas existe sempre o livre arbítrio e também algumas coisas que é sempre possível intervir.

Assim, entende-se por ancestral como sendo uma espécia de orixá divinizado. O corte para ser realizado para os ancestrais é sempre realizado com obé específico para este fim. No Ilê Orixá para ter condições de cortar para o ancestral é necessário ter no mínimo todos os orixás assentados, quatro anos no axé e estar ainda com a casa aberta, com tudo isso se joga para se definir o momento certo, devendo ainda ser lembrado que sempre o pai ou mãe deve possuir o axé antes do filho poder ter.

Pai Alexandre, logo após fez algumas observações e respondeu alguns questionamentos de filhos do axé, lembrou que não cultuamos uma cor específica para o ancestral, todas são válidas, mas em geral se utiliza branco, a cor de nosso luto.

Pai Ronie falou ainda que após decidido fazer corte ao ancestral na casa de um filho do axé, este não pode mais deixar de fazer, é uma responsabilidade assumida para sempre, é uma decisão sem volta, e ao contrário do que algumas pessoas dizem não existe relação alguma entre o Exu da Quinbanda e o ancestral.

Estiveram presentes nesta oficina: Zulamir de Oxum, Mãe Alessandra de Iemanjá, Janaína de Oxum, Antonio de Ogum, Ivone de Iemanjá, Isabel de Oxalá, Cátia de Ianssã, Anderson de Xangô, Silvia de Bará Agelú, Mariza de Oxum, Luana de Xapanã, Volnei de Ogum, Vanize de Odé, Jorge de Ogum, Antonio de Oya, Alison de Oxalá, Érica de Oya, Jorge de Ibeji, Israel de Ogum, Janaína de Oya, Cleber de Ossanha, Francieli de Oya, Thainá de Xapanãa. Chegaram ao final da oficina Mãe Fernanda de Xango, Mãe Júlia de Oya e Diego de Oxalá.