o axé de um babalorixá
Guias de contas coloridas, com muitos búzios e tecidos africanos não fazem um Babalorixá. Ser Babalorixá não é utilizar longas guias com búzios e roupas coloridas no dia-a-dia de suas casas. É ter mais que um carisma conquistador (pois alguns mostram muito carisma, mas são apenas uma forma de pegar suas vítimas).
A religião é tratada por alguns como um comércio, onde sempre quem paga a conta é o consulente e filhos de santo.
Claro que existem muitos Babalorixás exemplares que se preocupam em perpetuar o axé, que é perpetuado quando seus filhos abrem casas ou simplesmente são iniciados. Um axé é perpetuado quando um Babalorixá se coloca ao serviço dos Orixás e não como um semi-deus, que no dia-a-dia de suas casas apenas buscam mão-de-obra.
Na África Antiga, e nas primeiras casas de terreiro, ainda dentro dos engenhos, no Brasil colonial, os negros africanos não estavam preocupados com suas vestes e com seus colares, a preocupação era a manutenção e preservação da fé. Os colares utilizados por alguns não eram forma de impor respeito ou de realizar opressão, era parte de sua cultura.
A religião “… foi uma das áreas em torno da qual eles construíram novos laços de solidariedade, novas identidades e novas comunidades …” (Souza, 2008)
Hoje muitos Babalorixás e Yalorixás perdem a excência da religião por acredirarem que o luxo e a sua apresentação pessoal é significado de axé, esquecem que Orixá é simplicidade, Orixá é amor, e acima de tudo é fé. Não se deve confundir axé com beleza e com luxo. Existem casas muito simples e com muito axé, com muita força. Da mesma forma existem casas grandes, muito amplas, onde o axé é perdido na ancia de mostrar aos outros, uma imagem de força por suas obras materiais.
Não se preocupam se em um batuque será servida a comunidade faminta ou se “estrelas” que marcando presença em suas festas servem como “ingresso” para um seleto clube de alguns que pensam a religião como forma de status. De nenhuma forma isso quer dizer que não existam Pais de Santo, antigos e muito conhecidos (que são grandes mestres) com bastante axé.
Neste sentido a preocupação não é com o alimento que será servido para fortalecer o axé da casa, servir aos Orixas e matar a fome, e sim com a beleza de cada guloseima, o importante são comentários no dia seguinte. Que falem dos doces caros, trufas decoradas, doces com logotipos e outras coisas. Axé não se compra, não se rouba (de obrigações não entregues), segundo Santos (2008) “o àse, como toda a força, pode diminuir ou aumentar. Essas variações estão determinadas pela atividade e conduta rituais. A conduta está determinada pela escrupulosa observação dos deveres e das obrigações – regidos pela doutrina e prática litúrgica – de cada detentor de àse, para consigo mesmo, para com o grupo olòrisà a que pertence e para com o “terreiro”. O desenvolvimento do àse individual e o de cada grupo, impulsiona o àse do “terreiro””.
Desta maneira como fica o axé de um Babalorixá que não entrega uma assentamento de santo? Como fica o axé de da casa onde dezenas de pessoas que fazem suas obrigações não recebem suas obrigaçãoes? Como fica o axé de uma casa onde as pessoas são marionetes, que quando não servem mais suas obrigações são repassadas para outros (sempre leigos), como se fossem roupas usadas para uma doação.
Axé não se doa, não se rouba, se conquista e se ganha ou se recebe por merecimento, pois dinheiro não compra. Da mesma maneira, depois que estudamos, não tem como roubar ou transferir nosso estudo, claro que um “louco” pode nos roubar o diploma, mas o que foi aprendido, o que foi conquistado ninguém tira. O conhecimento, ensinamos o que queremos que os outros saibam, e o restante morre com a gente.
Disto, tiramos que o axé é da gente, que quando alguém rouba uma obrigação, está roubando o diploma, o conhecimento, o axé e o Orixá, não se vende, nos acompanha.
REFERÊNCIA
SANTOS, Juana Elbein dos. Os Nàgô e a morte: Pàde, Àsèsè e o culto Égun na Bahia; traduzido pela Universidade Federal da Bahia. 13 ed. Petrópolis, Vozes, 2008.